SÃO PAULO/BRASÍLIA, 20 Jun (Reuters) - Mais de meio milhão de pessoas
protestavam em cidades de todas as regiões do Brasil nesta
quinta-feira, ocupando importantes vias de capitais numa onda de
manifestações iniciada há duas semanas devido à elevação da tarifa de
transporte público, e que agora já abarca uma série de reivindicações.
Entre
os gritos de ordem dos manifestantes estavam críticas aos gastos
públicos com a Copa do Mundo de 2014 e, assim como ocorreu nos últimos
dias, a rejeição aos partidos políticos.
"Ordem e Progresso,
porque senão eu subo no Congresso", gritavam manifestantes em frente à
sede do Legislativo em Brasília, onde 20 mil pessoas participavam do
protesto, segundo a Polícia Militar. "Da Copa eu abro mão, eu quero é
mais dinheiro para a saúde e educação", cantavam.
A cavalaria da
PM do Distrito Federal se posicionou para bloquear os acessos ao Palácio
do Planalto e ao Supremo Tribunal Federal (STF).
A maioria das
manifestações era pacífica, mas em Salvador a polícia entrou em
confronto com um grupo de pessoas que tentava furar um bloqueio e ir em
direção à Arena Fonte Nova, onde as seleções de Nigéria e Uruguai jogam
pela Copa das Confederações.
No Rio de Janeiro, a situação era tensa com um grande embate entre policiais e manifestantes em frente à Prefeitura da cidade.
No
entorno do estádio do Maracanã, onde as seleções da Espanha e do Taiti
disputaram mais cedo partida pela Copa das Confederações, foram
colocados cordões de isolamento para evitar confrontos entre policiais e
manifestantes.
Em São Paulo, milhares de manifestantes ocupavam a
Avenida Paulista, a mais importante da cidade, e parte deles mostrava
irritação com a presença de militantes de partidos políticos com
bandeiras.
"É um absurdo. Esse é um movimento por um novo Brasil,
que não seja baseado em partidos, e aí eles aparecem?", disse a advogada
Edilene Silva, de 30 anos.
As manifestações foram mantidas mesmo
após diversas cidades do país anunciarem o recuo no aumento da tarifa de
transporte público, reivindicação que deflagrou a onda de protestos por
todo o Brasil. Agora, as reclamações vão desde os gastos com o Mundial
do ano que vem à corrupção.
As manifestações também aconteciam em
capitais de todas as regiões do Brasil, como Porto Alegre, Belo
Horizonte, Teresina, Belém e João Pessoa.
Os protestos desta noite
já reúnem mais que o dobro do registrado no fim da segunda-feira,
quando mais de 200 mil pessoas foram às ruas em várias capitais. O
Brasil não via uma manifestação popular dessa grandeza desde 1992, ano
do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello.
AGENDA CANCELADA
Diante
da onda de protestos no país, a presidente Dilma Rousseff decidiu
alterar sua agenda de viagens, que incluiria idas ao Japão e a Salvador
nos próximos dias.
Em São Paulo, mais de 189 mil pessoas
confirmaram presença pelo Facebook no sétimo protesto convocado pelo
Movimento Passe Livre (MPL) pelas redes sociais. A manifestação foi
mantida apesar do prefeito Fernando Haddad (PT) e o governador Geraldo
Alckmin (PSDB) terem cedido à pressão popular e revogado o reajuste das
passagens.
"Se antes eles diziam que baixar a passagem era
impossível, a revolta do povo provou que não é. Se agora eles dizem que a
tarifa zero é impossível, nossa luta provará que eles estão errados",
disse o MPL em nota.
Nas várias cidades do país com protestos
marcados para esta quinta-feira, os temores da repetição dos episódios
minoritários de violência e vandalismo, que aconteceram em manifestações
anteriores, fizeram com que comerciantes e agências bancárias
colocassem tapumes em volta de seus prédios para tentar evitar danos.
A
gama de reivindicações apresentada nas redes sociais até agora varia do
pedido de criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para
investigar os gastos com o Mundial a críticas a um projeto de "cura gay"
patrocinado pelo presidente da Comissão de Direitos da Câmara, o pastor
evangélico Marco Feliciano (PSC-SP).
As demandas incluem ainda a
rejeição à proposta de emenda constitucional 37, que restringe o poder
de investigação do Ministério Público, e a saída de Renan Calheiros
(PMDB-AL) da presidência do Senado.
O PT, partido que está há dez
anos no comando do governo federal, divulgou nota em apoio aos
manifestações. O presidente da legenda, Rui Falcão, pediu que os
militantes levassem a bandeira do partido aos protestos e promovessem
uma "onda vermelha".
Nas redes sociais, no entanto, internautas têm defendido o apartidarismo dos protestos.
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